"Compromisso
com o cidadão".
Eis o lema escrito, mas não
seguido da Polícia Militar do Estado de São Paulo
Afixado no gramado do Estádio do Pacaembu, tais
dizeres prometiam respeito aos direitos dos torcedores que compareceram em
ótimo número para a final da Copa São Paulo de Futebol Júnior, vencida pelo
Santos Futebol Clube, na manhã do último dia 25 de janeiro, aniversário da
maior metrópole da América do Sul.
Esse subscritor, por problemas de localização
geográfica conseguiu chegar ao Estádio, mais precisamente, no portão '09',
apenas no intervalo da partida. Sem ingresso em mãos, avisei meu amigo e
torcedor fanático do Santos, o qual encontrava-se no interior da praça
desportiva, para que viesse ao meu encontro para entregar a entrada,
adquirida por ele, frise-se, após quatro longas e inadmissíveis horas na
fila no dia anterior.
Com a permissão do fiscal da Federação Paulista de
Futebol, para sair do setor onde a Torcida Jovem do Santos vibrantemente
empurrava os “meninos da vila”, e rumar até a entrada do setor das numeradas,
pelo qual inclusive havia antes adentrado ao estádio, meu amigo, devidamente
uniformizado, conseguiu entregar-me o ingresso.
Assim, com a entrada na mão, pude rapidamente
acessar o interior das arquibancadas – sem, é claro, ter sofrido qualquer
revista rigorosa por parte da Polícia Militar. Inobstante a isso, segundos
depois, quando nos dirigíamos ao setor da torcida organizada, dois
policiais, entoando vozes ameaçadoras, dirigiram-se aos gritos para o amigo que
me acompanhava, informando-lhe que ali não poderia permanecer, pois, por trajar vestimenta da organizada, imaginaram que havia pulado a
divisória e estava naquele espaço de modo irregular.
Imediatamente, iniciamos uma argumentação
respeitosa aduzindo que ele havia adquirido as numeradas e que, por lapso,
havia jogado o ingresso fora após entrar no estádio (costume de muitos), e que
comprovaria tal fato chamando o pai que estava a poucos metros. No entanto,
esses policiais que prestaram um juramento em suas corporações para honrar o
compromisso com o cidadão e, consequente, torcedor paulista, ultimaram irônica
e efusivamente, se ele queria sair do estádio por bem, ou se gostaria de ser
levado ao posto de comando sob ‘forte escolta’, em outras palavras, com
covardia e violência. Nesse particular, um terceiro policial, após ouvir os
fatos, afirmou que daria voz de prisão caso ele não saísse da praça de
desporto, ao alegar estar sendo desrespeitado, no que comprovava, portanto, a
ignorância e a falta de diálogo que frequentemente culmina na prática de abuso
de autoridade, utilizada por muitos membros de segurança pública presentes nos
estádios.
Vale lembrar. Isso tudo, gerado pela preguiça em
refletirem racionalmente sobre o que estava a acontecer. Ora, quais os motivos de um torcedor, membro de
organizada, pular a divisória do Pacaembu, a qual, diga-se de passagem, nos
remete as existentes em um presídio, onde se encontram fiscais da Federação e
outros Policiais Militares, com um ingresso para o setor das numeradas, na qual
o custo de compra era mais elevado, senão para entregar o ingresso no setor que
já estava? Se assim não fosse, e caso ele não tivesse permissão para
estar nas numeradas, obviamente eu iria receber o ingresso na entrada do setor
principal da Praça Charles Muller e, ato contínuo, seguiria até o portão 09.
Infelizmente, no momento não conseguimos comprovar
a anuência do fiscal da federação, visto que como cediço, em descompasso com o
Estatuto do Torcedor, inexiste um trabalho integrado entre esses dois órgãos de
organização durante as partidas, acarretando em um "gentil convite"
para que meu amigo se retirasse do estádio, no que imediatamente a ele me
juntei para denunciar referido abuso ao Ouvidor da Competição.
Ao chegar à entrada principal do Paulo Machado de
Carvalho, busquei por fiscais da Federação que não souberam direcionar exatamente quem era o Ouvidor da
Competição. Apenas, apontaram para que eu conversasse com outro fiscal. Nesse
meio tempo, paramos para falar com outros dois policiais militares, um deles do
sexo feminino, e, felizmente, de forma calma, pude explicar todo o
mal-entendido e o abuso de autoridade exercido momentos antes.
De maneira correta e ponderada, a policial militar
entendeu o que havia sucedido e ordenou a um fiscal da federação,
que adentrássemos ao estádio mesmo sem mais portar qualquer ingresso.
Por fim, reforçou que só estava a permitir a entrada, porque esse que por ora
escreve, conversou calmamente, sem alardes e desespero como o meu amigo,
exaltado por razões óbvias, haja vista estava a perder o inicio do segundo
tempo, assim o fez.
Afirmou ainda, que, em que pese ele tivesse razão,
como o tinha, jamais seria ouvido por qualquer policial militar. Primeiro pelo
fato de exigir seus direitos de forma um tanto quanto agressiva pelo desespero que o acometia e, sobretudo,
pelo estigma negativo que os torcedores de organizadas recebem da maioria dos
efetivos de segurança.
Tal experiência, quiçá, veio a calhar para
comprovar o que, em posts anteriores
e em revistas jusdesportivas, venho defendendo, ainda que sob alvo de críticas.
Faz-se urgente e necessário a substituição dos efetivos de segurança pública,
por seguranças privados acompanhados de orientadores, os denominados
'stewards'. Os torcedores já não aguentam mais ser tratados como animais,
constantemente privados de se manifestarem contra a irresponsável e ditatorial
repressão exercida pelos membros da Polícia Militar nos estádios do país. Quem
procede de forma semelhante, invariavelmente receberá o mesmo destino experimentando
ontem por nós torcedores, ou seja, expulsão ou condução à delegacia sem sequer
ter infringido qualquer obrigação.
Com efeito, é inadmissível, em plena evolução da
indústria esportiva, aceitar o fato de que tais policiais, nitidamente
despreparados, sobretudo, psicologicamente, como os que ontem pude me deparar,
estejam à frente de toda a responsabilidade de segurança que envolve uma
partida de futebol, quais sejam, prevenção, revistas de segurança e
contenção.
Destarte, precisamos urgentemente lutar contra
estigmas que vêm sendo direcionado aos
torcedores, principalmente, os de organizadas, fato esse comum no meio da
Policia Militar de São Paulo com outra parcela da sociedade, vide -
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/orientacao-racista-na-pm-sp-provoca-indignacao-de-grupo-de-direitos-humanos/ -
e às constantes violações aos direitos dos torcedores.
Notem que apenas, no lamentável episódio ocorrido
na manhã de sábado, chegaram a proibir o sagrado direito de o torcedor assistir
ao seu time de coração, sem sequer ouvir suas justificativas, violando, por
conseguinte, artigos basilares acerca do respeito, educação, orientação e
segurança que devem ser assegurados aos adeptos por força do Código De Defesa
do Consumidor e do Estatuto Do Torcedor.
Derradeiramente, ressalto que, ainda que os
policiais estivessem incorrido em erro, como ocorreu, poderiam tê-lo levado ao
setor da organizada do Santos, imaginado por eles como o local de origem do meu
amigo e torcedor alvinegro. Mas daí seria pedir muito, até porque mandar
torcedores para fora utilizando-se do “poder das algemas” será sempre mais
cômodo e eficaz, não é mesmo?
Com indignação,
FELIPE TOBAR