MANIFESTO PELA PAZ
Ante a violência nas
Torcidas Organizadas de Futebol, a TOPPAZ apela ao bom senso e propõe reflexões
e ações imediatas, verdadeiras e eficazes
Prezado(a)
amigo(a), você tem a oportunidade de ler neste momento um Manifesto publicado
sob a responsabilidade do Projeto TOPPAZ (Torcida Organizada pela Paz).
É
um documento que deseja convidá-lo(la) a refletir e, consequentemente, a agir,
com todas as suas forças, dentro da Lei e da Ordem, pela PAZ na
cidade de Goiânia (GO).
Passemos,
pois, à exposição do assunto.
1)
Conceituando violência: o problema de Goiânia é mais amplo do que as brigas
entre torcidas organizadas de futebol.
Definimos
violência como “o uso injusto da força – física, psíquica ou moral – no intuito
de privar alguém de um bem a que tem direito (vida, saúde, liberdade...) ou em
vista de impedir-lhe uma opção livre, coagindo-o a fazer até o contrário aos
seus interesses”[1].
Isso
posto, olhamos para a realidade goiana e percebemos que a cidade traz, muito
além da ação de maus torcedores de algumas organizadas, um histórico de
violências múltiplas e desmedidas.
Em
recente pesquisa, ficou demonstrado que, infelizmente, Goiânia figura entre as
cidades mais violentas do Brasil. Está em 13º lugar no ranking brasileiro de
homicídios e em 40º no rol das cidades em que mais se mata no mundo[2].
Ora,
nesse contexto geral não é de se estranhar que ocorram mortes em algumas
Torcidas Organizadas da cidade.
A
Torcida reflete o ambiente no qual está inserida, ainda que ela deva lutar para
que esse ambiente possa (e deva) ser radicalmente mudado, haja vista que os
líderes de organizadas exercem grande influência sob seus associados[3].
2)
Não existe apenas o torcedor violento. Há seres humanos problemáticos. Estes
num grupo de pessoas – no caso uma torcida organizada – podem ampliar sua
estupidez.
A
Toppaz defende a tese segundo a qual não existe um torcedor violento, apenas
pelo fato de ser torcedor.
Se
o fato de torcer por um time deixasse, por si mesmo, alguém com propensões
violentas, a consequência seria desastrosa: precisaríamos acabar com todos os
times de futebol e demolir os estádios em geral.
Ora,
isso está longe de acontecer, pois o esporte há de ser entendido – ainda que se
considere suas limitações e opiniões contrárias[4] – como algo prazeroso que leve ao
lazer e à disciplina.
Nesse
ponto, lembramo-nos da importante constatação do filósofo Demerval Saviani ao
escrever que “Levar na esportiva” significa não cair em provocações, reagir com
bom humor. Tem “espírito esportivo” quem sabe ganhar ou perder com classe, com
elegância”[5].
Portanto,
a estupidez vista dentro e fora dos estádios por parte de alguns torcedores não
decorre, primariamente, do ato de torcer, mas de problemas de várias ordens
(educacional, ético, psíquico) relacionados ao sujeito torcedor[6].
Esse
indivíduo caracterizado como violento, independentemente de ser torcedor ou
não, reflete na sociedade o que ele é no mais profundo do seu ser e, por isso,
faz essa mesma sociedade – num efeito bumerangue ou de vai e volta – se
refletir violenta.
Explicamos
o que atrás foi dito, a partir das constatações vindas de dois promotores de
Justiça, portanto, homens que estão habituados a estudar e a enfrentar a
questão da violência muito de perto.
2.1
Paulo Sérgio de Castilho afirma: “O que se percebe, nos eventos
futebolísticos, é que a violência é um fenômeno humano que ocorre
independentemente da camada social a que o indivíduo pertença”[7].
2.2
Ronaldo B. Pinto assevera em relação à violência no futebol que “não
há nada que difira, basicamente, da violência que se vê no trânsito, na escola,
no emprego, nas relações familiares, etc. Aquele que agride a esposa em casa,
aproveita os jogos de futebol para agredir também seu oponente. Quem transgride
a lei de trânsito, transpondo o sinal vermelho que lhe é desfavorável, sente-se
estimulado a atingir os mais elementar direito do seu semelhante. Tudo é fruto
da enorme escalada da violência que se verifica em nosso país, cujas causas são
as mais diversas e que, por conseqüência, atinge também o futebol (embora, não
raramente, sejam vistas tais práticas também no basquete e no futsal)”.
E
continua: “Uma sociedade violenta irradia seus reflexos para todos os campos da
atividade humana, sendo inviável se imaginar que o esporte possa se ver livre
desse fenômeno”[8].
Não
há, pois, como não dizer que essa violência é um produto (efeito). Logo, tem
uma fábrica que a produz (causa). Essa causa é o ser humano problemático por
carências diversas que vão desde a falta de educação básica até a sanidade
mental afetada[9]. Ele precisa,
portanto, de apoio.
Feita
essa explanação, resta-nos considerar uma solução plausível e eficaz para o
problema atrás delineado.
3) Só
com punições e medidas politiqueiras nada se resolverá.
Antes
de tratarmos da centralidade do ser humano na resolução dos problemas de
Goiânia, façamos uma importante observação esclarecedora.
Afirmamos
que “só com punições” não serão resolvidos os problemas da violência, mas não
queremos com isso dizer que a punição seja algo secundário. Ela tem sua
importância no processo disciplinador, segundo assegura, entre outros
estudiosos, o psiquiatra Dr. Joaquim Z. Motta[10].
Igualmente
boas medidas políticas muito ajudam, mas quando se tornam politiqueiras, além
de não ajudarem, podem atrapalhar, pois, em vez de se tentar soluções para o
problema da violência, beneficia-se desse problema para fins próprios.
Paulo
Vinícius Coelho, em seu artigo “Chega de Demagogia”, afirma que, em São Paulo,
parte daqueles que se dizem grandes adversários da violência nas torcidas ou
combatentes de torcidas organizadas, na verdade, visam a cargos públicos
eletivos[11].
Ora,
tudo o que é movido por segundas intenções, ainda que inconscientemente, não
pode levar a bom termo.
4)
A raiz do problema está no ser humano
Se
o cerne da questão é o ser humano problemático, ele é que precisa ser
trabalhado por quem está perto dele ou com ele convive.
Daí,
delimitarmos o problema, neste Manifesto, focalizando-o para as torcidas
organizadas, maiores causadoras de confusões nas praças esportivas ou seus
arredores, segundo os dados que temos.
Perguntamos
então: Elas querem ou não viver em PAZ?
Se
responderem SIM, que apliquem os meios para isso. Se disserem que NÃO, devem
ser extintas oficialmente como grupos paramilitares condenados pela
Constituição Federal artigo 5º, XVII.
Óbvio
é que, por encadeamento de raciocínio, alguém perguntará: A extinção das
torcidas freará a violência?
Por
si só, nunca freará, mas por duas razões ajudará a sociedade:
a)
elimina uma das fontes de ódio que as organizadas criam umas para com as
outras, pois de acordo com o promotor de Justiça Paulo Castilho é nas
organizadas estão os maiores focos de violência entre torcedores[12].
b)
dá perda de dinheiro a quem vive dela, pois deixam de receber as mensalidades,
de vender camisetas, bonés, chaveiros, etc. Isso faz quem só vive de torcida ou
nela faz seu pé de meia ter que buscar outro campo de renda.
Ante
esse emaranhado de coisas, devemos apontar outras vias.
5)
Soluções simples, sérias e eficazes
Acordos
de PAZ: é extremamente necessário que as torcidas organizadas
assinem um Acordo de Paz, divulguem esse acordo para todos os associados e
expulsem quem o descumprir.
Formas
de anunciar os jogos: as formas com que os jogos serão anunciados
devem constar o nome correto do rival e não apelidos que o menospreze[13].
O
associado tem que aprender que o OUTRO também é um ser humano. Esse OUTRO
apenas torce por um clube diferente e, consequentemente, tem outra torcida.
Fim
das letras violentas: as letras violentas são causas de confusão,
pois ajudam a deixar o já apaixonado ambiente futebolístico[14] ainda mais agitado. A torcida
organizada existe para apoiar o seu time e não para ofender a torcida
adversária[15].
Devolução
de material roubado: os “panos” tomados devem ser imediatamente
devolvidos, pois essas tomadas de material são, na verdade, furtos e roubos que
caracterizam crimes punidos pelos artigos 155 e 157, respectivamente, do Código
Penal e, se cometido por mais de 3 pessoas, também se insere no artigo 288 do
mesmo Código que é formação de quadrilha.
Formação
aos associados: o associado deve ser formado, por meio de
reuniões, palestras, encontros para respeitar e não para odiar o rival. Quem
forma alguém para o ódio é um criminoso e não um torcedor.
Punição: aqueles
que não se adequarem às normas propostas e assinadas, devem ser expulsos da
agremiação e entregues às autoridades, conforme a gravidade do que cometeu[16].
Delimitação
de território, vigilância na internet e no dia a dia: faz-se
importante respeitar territórios sabidamente frequentados por rivais, de modo a
não se passar por lá, exceto em caso de extrema necessidade.
Também
as provocações ou marcação de confrontos via internet devem ser vigiadas, pois
comprometem não são os brigões, mas, solidariamente, a torcida toda[17].
Isso
tudo é simples, sem custos financeiros e ajuda muito a manter a PAZ.
6)
Afinal que é a PAZ? Como consegui-la a contento?
Antes
do mais afaste-se a ideia errônea de que neste mundo teremos uma PAZ perpétua,
pois os conflitos são inerentes ao convívio humano, embora devam ser combatidos
com os meios racionais de que dispomos[18]. Daí a oportunidade deste Manifesto
que você lê.
No
entanto, escreve Santo Agostinho de Hipona (†430), grande gênio da Idade
Antiga, que “a paz é a tranquilidade da ordem”, ou seja, para haver paz é
preciso existir ordem. Ora, só se pode chegar a essa ordem com um compromisso
sério de paz alicerçado no amor a Deus e ao próximo, uma vez que estes
encontram seu fundamento último nos mandamentos divinos sem os quais nenhum
verdadeiro acordo subsiste. Aliás,
a respeito do que acabamos de afirmar diz, muito acertadamente, o grande
pensador brasileiro Plínio Corrêa de Oliveira: “Tirai o amor de Deus da Terra e
tereis tirado os Mandamentos; tirai os Mandamentos e a velha e surrada
expressão latina ‘homo homini lupus’ tornar-se-á verdadeira: o homem
transformar-se-á num lobo para o outro homem. Não adianta falar de ONU, nem de
paz num mundo onde o homem é um lobo para o próximo[19]”.
Isso
posto, pode-se concluir que o caso de Goiânia é sério, mas, se as torcidas
quiserem, terá solução. Melhorará sensivelmente se as organizadas se voltarem
para um real acordo de paz – com medidas práticas e eficazes dele decorrente –
à luz de Deus. Fora d’Ele, por mais
que se tente, como já se tem tentado, nenhuma saída terá efeito duradouro.
7)
Na prática: que fazer?
Distribuir
este manifesto; conscientizar quem está ao seu redor (professores, líderes
religiosos... muito podem ajudar); alertar as autoridades por denúncia anônima;
divulgar bons fatos referentes às organizadas; cobrar políticos, Federação
Goiana de Futebol, presidentes de Clubes e de Torcidas.
Conclusão
Registramos
aqui o nosso cordial agradecimento a você que se dedicou à leitura deste
Manifesto da Toppaz e que irá nos ajudar a divulgá-lo.
Pedimos
a Deus que, por intercessão de Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do
Brasil nos abençoe – a nós e nossos trabalhos, a você e sua família, as
torcidas de boa intenção e a população inteira de Goiânia.
O
caminho está delineado e as torcidas estão convidadas a dizer uma
palavra em resposta a nossa pergunta: Querem a PAZ no modelo sério e verdadeiro
que propomos ou preferem a GUERRA?
–
A RESPOSTA está com os responsáveis pelas torcidas organizadas e a sociedade
brasileira, ordeira, pacífica e cordial, espera delas – PUBLICAMENTE –
a resposta do SIM ou do NÃO.
Assinam:
Felipe Bertasso Tobar e Vanderlei de Lima.
PROJETO TOPPAZ: Caixa
Postal 103. CEP 13900-970. Amparo, SP.
E-mail:
toppaz1@gmail.com /Fone 19 9223 8676.
PAZ
[1] Regis Jolivet Vocabulário de Filosofia. Rio de Janeiro: Agir, 1975. Verbete Violência.
Estevão Bettencourt. Curso de Doutrina Social da Igreja. Rio
de Janeiro: Mater Ecclesiae, p. 214.
[2]http://atarde.uol.com.br/cidades/noticia.jsf?id=5798744&t=Salvador+e+a+22a+cidade+mais+violenta+do+mundo+aponta+estudo
[3] Cf. Ronaldo Batista
Pinto. Estatuto do torcedor comentado. São
Paulo: RT, 2011, p. 107.
[4] Carlos A. Máximo
Pimenta. Torcidas organizadas de futebol: violência e autoafirmação. Taubaté:
Unitau, 1997, p. 71.
[5] Prefácio ao livro Futebol e Violência escrito por Heloísa H. Baldy dos Reis.
Campinas: Armazém do Ipê/Fapesp, 2006, p. XVI.
[6] Vanderlei de Lima. Torcida Fúria Independente. São Paulo: Ixtlan, 2011, p. 67-68.
[7] Ações práticas e propostas legislativas de combate à violência no futebol: a
criminalização é o caminho? São Paulo: F.P.F., 2010, p. 101.
[8] Estatuto do torcedor
comentado. São Paulo: RT, 2011, p. 103.
[9] Ver O Estado de S. Paulo, 05/12/10, p. A 28, entrevista com Maria Helena
Ferreira.
[10] Gol, guerra e gozo:
como o prazer pode golear a violência. São Paulo: Casa do Psicólogo, p. 18.
[11] O Estado de S. Paulo 1º de abril de 2012, p. E-3.
[12] Ações práticas e
propostas legislativas..., p. 90.
[13] Exemplos de anúncios
corretos de jogos podem ser encontrados nos sites das Torcidas Mancha Azul, do
CSA (Alagoas) e da Jovem Amor Maior, da Ponte Preta (São Paulo).
[14] Escreve Gustavo Lopes
P. de Souza que o ambiente do futebol é potencialmente violento pelas paixões
que desperta (Estatuto do Torcedor: a evolução dos direitos do consumidor do
esporte (Lei 10.671/2003). Belo Horizonte: Alfstúdio, p. 84.
[15] Algumas, ao
contrário, parecem existir apenas para ofender o rival, conforme destacou o
deputado Zezé Perrela no Diário da Câmara dos Deputados em 27/09/01, p. 46.201, citado no livro Estatuto do Torcedor comentado, p. 104.
[16] Para isso tem sido
útil o TAC, Termo de Ajustamento de Conduta assinados entre o Ministério
Público e a Torcida Organizada com penalidades pesadas a esta última.
[17] Estatuto do Torcedor,
artigos 39-B e 41-B.
[18] Ver Vanderlei de
Lima. Torcida Fúria Independente. São Paulo:
Ixtlan, 2011, p. 17-44.
[19] Catolicismo n. 731, novembro de 2011,
p. 2.
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