sábado, 21 de abril de 2012

Paz: Torcidas Organizadas na encruzilhada da decisão

A população brasileira, sempre pacífica, ordeira e cordial, tem recebido com grande perplexidade as notícias a respeito da alarmante escalada da violência envolvendo torcedores de futebol em Goiânia.

Há longos anos, foi gestado um bebê maldoso, filho legítimo das torcidas organizadas. Ao seu tempo, ele veio à luz, cresceu, foi, em vez de curado, mimado e agora causa transtornos. Não têm, no entanto, parentesco com esse bebê as subsedes de torcidas de fora que, segundo fui informado, agem dentro da lei e da ordem proporcionado, inclusive, grandes benefícios para a cidade.

Diante do problema, algumas tentativas de solução já foram propostas sem os frutos almejados. Ora, é preciso não esquecer que a violência é algo presente em toda a sociedade e apenas repercute dentro das torcidas. Todavia, essas organizadas podem, dependendo de suas ideologias ou lideranças, acalmar ou acender o lado estúpido do associado.

Adotando a segunda opção, às vezes até inconscientemente, alguns afirmam que “Sempre foi assim e sempre vai ser” ou que “Isso nunca vai melhorar”, “A lei brasileira é fraca pra segurar as torcidas” etc. Daí a questão: por que dizem isso? A resposta é simples: porque não têm fé em Deus. Só isso. Sim, só isso, pois quem tem fé transforma a realidade da desgraça para a da graça e a da morte para a da vida.

Aqui algum leitor pode estar se indagando: “Mas se o Sr. diz que é tão simples por que as próprias torcidas envolvidas nas brigas não mudam esse quadro terrível alicerçado numa lei pior do que a lei de talião do ‘olho por olho dente por dente’?” Porque, respondemos, a bagunça, ao menos aparentemente, parece bem mais fácil de ser seguida do que a via reta e ordeira. Contudo, só essa última leva à paz.

Com efeito, escreve Santo Agostinho de Hipona (430), grande gênio da Idade Antiga, que “a paz é a tranquilidade da ordem”, ou seja, para haver paz é preciso existir ordem. Ora, só se pode chegar a essa ordem com um compromisso sério de paz alicerçado no amor a Deus e ao próximo, uma vez que estes encontram seu fundamento último nos mandamentos divinos sem os quais nenhum verdadeiro acordo subsiste. Aliás, a respeito do que acabamos de afirmar diz, muito acertadamente, o grande pensador brasileiro Plínio Corrêa de Oliveira: “Tirai o amor de Deus da Terra e tereis tirado os Mandamentos; tirai os Mandamentos e a velha e surrada expressão latina ‘homo homini lupus’ tornar-se-á verdadeira: o homem transformar-se-á num lobo para o outro homem. Não adianta falar de ONU, nem de paz num mundo onde o homem é um lobo para o próximo” (Catolicismo n. 731, novembro de 2011, p. 2).

Isso posto, pode-se concluir que o caso de Goiânia é sério, mas, se as torcidas quiserem, terá solução. Melhorará sensivelmente se as organizadas se voltarem para um real acordo de paz – com medidas práticas e eficazes dele decorrente – à luz de Deus. Fora d’Ele, por mais que se tente, como já se tem tentado, nenhuma saída terá efeito duradouro. Chega-se, então, a uma encruzilhada ou a um dilema que pode ser assim proposto: ou as torcidas acabam com a violência ou a violência acaba com as torcidas.

A resposta a esse dilema ou a saída dessa encruzilhada só as próprias lideranças das organizadas podem oferecer para o bem de todos. Estamos, portanto, na encruzilhada da decisão: a palavra e as ações cabem às torcidas locais envolvidas em conflitos.

É delas – e só delas – que o Brasil espera uma resposta positiva. Com a graça de Deus.


Autor: Vanderlei de Lima é professor, filósofo e escritor. Dirige o Projeto Toppaz (Torcida Organizada Pela Paz). E-mail: toppaz1@gmail.com

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