A
Dragões da Real (DDR) é uma torcida fundada, em 15 de junho de 1984, com a
principal meta de apoiar, incondicionalmente, o São Paulo Futebol Clube, time nascido
na capital paulista em 1935.
Desde a sua fundação – salvo os
primeiros anos após 1995 em que ocorreu a chamada “batalha campal no Pacaembu”
– essa torcida não parou de crescer e, nos últimos anos, tem surpreendido,
positivamente, também no Carnaval Paulista com uma respeitada Escola de Samba
e, na sociedade em geral, por meio de exemplares campanhas sociais, bem como
pela brilhante proposta de paz entre as organizadas levadas a cabo,
especialmente, por André Azevedo, seu atual presidente.
Considerando esses avançados
trabalhos da DDR, o Projeto Toppaz (Torcida Organizada Pela Paz) propôs, mais
de uma vez, que a Dragões completasse o seu interesse pela paz mudando também
as formas de anunciar alguns de seus jogos, principalmente os clássicos e as demais
partidas de grandes rivalidades.
A proposta da Toppaz é simples, mas muito significativa. Já foi
apresentada, com detalhes, em um artigo publicado pela conceituada revista Síntese: Direito Desportivo n. 13,
junho/julho de 2013, p. 208-220. Lá se afirma que a violência simbólica, às
vezes exposta sob capa de brincadeira sadia, pode levar à violência física no
ambiente futebolístico, especialmente, se o outro é visto não mais como mero
rival, mas, sim, como inimigo a ser destruído.
Ora, na filosofia toppaziana, a partir do momento em que não se
coloca o nome correto do rival e nem seu símbolo, passa-se da mera brincadeira
sadia, que permeia o mundo futebolístico, para a violência simbólica e esta
pode, consequentemente, levar a agressões ou mortes. Daí formularmos, no
referido artigo da Síntese, quatro
medidas práticas que, embora não eliminem a violência, cujas causas éticas e
sociais são bem mais profundas, muito podem ajudar a minorá-las. Dentre as
propostas, cabe destaque a de número 2 que diz: “O anúncio de jogo seja feito
com o nome (e o símbolo, se houver) correto do time rival, ainda que este possa
ser colocado com letras minúsculas ou o símbolo em tamanho menor do que o time
anunciante da partida”.
Na prática, coloca-se, em nosso Estado: São Paulo x Corinthians;
São Paulo x Palmeiras; São Paulo x Santos ou em ordem inversa quando aqueles
times forem os mandantes. A mesma medida civilizada e civilizatória cabe para
os jogos com os grandes rivais de outras unidades da nossa Federação.
Essa norma, que, a princípio, parece
ingênua, ajuda a formar, na cabeça do torcedor adolescente ou jovem, a ideia de
que ele tem rivais, mas não inimigos ou caças a serem abatidas. É uma tentativa
de se recuperar a ideia primeira do futebol moderno: civilizar os instintos
humanos selvagens por meio da disputa sadia e dentro de regras – legais ou do
simples bom-senso – a serem usadas, cada uma a seu modo, dentro e fora das
quatro linhas.
Aqui, alguém poderia dizer o
seguinte: uma torcida organizada que age com civilidade é “fraca”, pois os torcedores
precisam ser másculos de verdade e sair quebrando tudo para impor respeito ao
adversário. Nada mais ignorante e irracional. Essa afirmação não resiste, por
exemplo, às observações do médico psicoterapeuta Dr. Joaquim Motta, ao dizer
que “um animal recorre à agressão quando está enfraquecido”. (...) “Reagimos
com violência na vivência da fraqueza” (Gol,
guerra e gozo. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005, p. 23-24).
Portanto, se a torcida Dragões da
Real despreza a violência e cultiva a paz anunciando civilizadamente os jogos
em suas redes sociais, ela não é mais fraca. Ao contrário, é mais forte e
máscula do que aquelas outras torcidas que, eventualmente, acuadas pelo medo,
apelam para a selvageria simbólica e física.
Com essa nova forma de anunciar os jogos, colocando os nomes e símbolos
corretos dos rivais, a Dragões da Real oferece um grandioso exemplo para o
Brasil. Merece os parabéns de todos os que, realmente, prezamos a paz.
Vanderlei de Lima é filósofo e coautor do livro O protagonismo das torcidas organizadas na
promoção da paz, Ed. do Autor, 2012. E-mail: toppaz1@gmail.com
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