quinta-feira, 25 de abril de 2013

O DRAFT DA NFL





Prezados leitores!
Hoje é dia de tratarmos de um assunto que jamais foi tema de abordagem nesse espaço jus-desportivo. Trata-se do Futebol Americano (FA), cujo esporte vem ganhando cada vez mais adeptos em nosso país, especialmente a partir da massiva e crescente veiculação das partidas da NFL (National Football League), disputadas todos os anos entre os meses de setembro à fevereiro.
Como nessa noite de quinta-feira, no Radio City Music Hall, na cidade de Nova York, acontecerá a 1ª rodada do DRAFT 2013 da NFL, iniciaremos uma série de artigos sobre esse apaixonante esporte, cabendo para esse primeiro post, as regras básicas do recrutamento, quem está apto a participar dessa seleção, bem como as possíveis implicações jurídicas e desportivas (atinentes à esfera técnica da competição) geradas pelo draft.
Pois bem, meus caros. A National Football League, é a maior liga de futebol americano do mundo, com trinta e dois times participando ativamente todos os anos, na forma de franquias, fator esse que necessariamente promove um incessante anseio em se atingir o pleno sucesso com os mais altos lucros possíveis.
Somente a título de curiosidade, em recente pesquisa da revista ‘Forbes’, datada de julho de 2012, todos as 32 franquias da NFL, figuram na lista dos 50 clubes mais ricos do mundo. Destaques para a franquia texana do Dallas Cowboys avaliado em 1,85 bilhão de dólares e para o Pittsburgh Steelers, maior campeão de SuperBowl´s da história, avaliado em 1,02 bilhão de dólares.
Outrossim, tamanho é o êxito comercial e de excelência no trato direcionado aos fãs dessa liga americana, que segundo Brad. R. Humphreys e June E. Ruseski, no artigo denominado “The Scope of the Sports Industry in the United States”, publicado no livro “The Business of Sports – Volume 1 – Perspectives on the Sports Industyr” estima-se que um em cada três americanos assistem aos jogos da modalidade pela televisão. Mais do que isso, a segunda maior média de público registrada nos eventos esportivos americanos, disputados no ano de 2005, é atribuída a NCAA Football (Futebol Americano Universitário) com 43.486,574 espectadores por partida.
Logo, como veremos a seguir, o processo denominado ‘draft’ é resumidamente uma convocação anual de atletas, na maioria universitários, e estrangeiros que, declaram-se elegíveis para o recrutamento da NFL, de modo a estarem à disposição das 32 franquias, durante três noites de rodadas extremamente intensas, tanto para os clubes, como para os atletas, agentes/empresários e familiares.
Conta a história que o ‘draft’ foi inventado por Bert Bell, comissionário da NFL em 1935, como medida para forçar a permanência dos times na liga, já que alguns se mostravam insatisfeitos pela dominação de poucos (desequílibrio competitivo).
Ainda em plena vigência, o draft que todos os anos é realizado no mês de abril, em Nova York, com transmissão ao vivo para todo os Estados Unidos (No Brasil a ESPN transmitirá), se extenderá até o próximo sábado (27/04), renovando as esperanças dos fãs do futebol americano para a temporada 2013/2014, especialmente daqueles que viram seus times fracassarem na temporada anterior, vencida pelos Ravens após emocionante final contra os 49ers.
O processo do draft, pode se iniciar, conforme Kevin Bonsor, jornalista pela Georgia Southern University, às vezes até anos ou meses antes do anúncio oficial pelo comissário da Liga após o fim do SuperBowl de cada ano. É costumeiro que muitas franquias direcionem seus olheiros e técnicos específicos para acompanharem a evolução de determinados atletas universitários durante os anos de preparação para o recrutamento, formulando ao longo das temporadas, um scouting completo das habilidades e deficiências apuradas,  que certamente os auxiliam nas escolhas do recrutamento.
Em que pese possam ser draftados atletas de outros esportes (vide Carl Lewis, em 1984 e Bob Hayes, em 1964, ambos pelo Dallas Cowboys), a imensa maioria (99%) advém do futebol americano universitário. Bonsor novamente explica que “uma das poucas regras do recrutamento é que jogadores não podem entrar no recrutamento até terem se passado três temporadas do futebol universitário desde que se formaram no colegial (High School). Isso significa que quase todos os alunos de primeiro ano e alguns do segundo não podem ser recrutados. Ato contínuo o “limite para os estudantes dos anos iniciais da faculdade, o segundo e o terceiro, se declararem elegíveis para o recrutamento da NFL se dá sempre no mês de janeiro”.
Uma vez declarado como elegível, o atleta automaticamente abre mão de jogar futebol americano universitário, ademais de consentir na proibição de não mais poder atuar por sua universidade.
Desde o fim do Super Bowl, oficialmente as franquias buscam saber mais dos atletas declarados disponíveis. Nesse sentido, a NFL realiza durante o mês de fevereiro, o “NFL Scouting Combine”. Tal evento, como seu próprio nome demonstra, proporciona às equipes que analisem com maior proximidade as qualidades dos atletas.  Realizado nesse ano no Estádio do Indianapolis Colts (salvo melhor juízo, é tradição que por lá sempre ocorra), constituiu o primeiro passo de familiarização da mídia e dos milhões de fãs para com os futuros atletas de suas equipes.
A partir daí as especulações sobre quais jogadores serão draftados na primeira rodada só aumentam. Geralmente, as equipes fazem listas alternativas, pois caso não sejam as primeiras a ‘captarem’ os atletas no processo de recrutamento, não existem garantias de que aquele tão sonhado jogador estará disponível quando a oportunidade chegar para escolher. Oportunidade esta que obedece a critérios acordados entre as equipes e a própria NFL, conforme disposto nos Convênios Coletivos da Liga.
Inobstante o fato de que algumas franquias, sobretudo, as que possuem as primeiras seleções no draft, possam determinar suas escolhas antes mesmo do evento realizado em Nova York, o que  então passaria a constituir a apresentação/eleição do atleta, uma mera formalidade para oficializar o negócio, o mesmo certamente não acontece com as demais equipes.
Nos explica Bordon que “embora a equipe que tem o direito a fazer a primeira escolha esteja "sendo cronometrada" desde o final de janeiro, que é quando o Super Bowl acontece, o relógio começa a contar de verdade no dia do recrutamento. Nesse primeiro dia, o representante (comissário) da NFL (atualmente Roger Goodell) sobe no pódio do palco, na teatro do Madison Square Garden, e anuncia que a primeira equipe na seqüência do recrutamento está sendo cronometrada”.
Destarte, “na primeira rodada, as equipes têm 15 minutos para decidir. O tempo de decisão cai para 10 minutos na segunda rodada e para cinco minutos das rodadas três até a sete. Caso uma equipe não tome uma decisão dentro do tempo que lhe é dado, a próxima equipe pode escolher antes dela, e a equipe que perdeu sua vez pode apresentar sua escolha a qualquer momento após seu tempo ter acabado. A posição de uma equipe no recrutamento tem relação inversamente proporcional ao sucesso que atingiu nos campos durante a temporada anterior, o que explica o motivo de uma equipe com o pior índice de vitórias poder fazer a primeira escolha em cada rodada, enquanto o campeão do Super Bowl tem o direito de escolher por último.
No Draft de hoje a primeira equipe a escolher é o Kansas City Chiefs e a última o atual campeão, Baltimore Ravens.
Esta é a posição padrão do recrutamento, a menos que decidam trocar suas escolhas. As outras 30 equipes se encaixam em alguma posição do meio, dependendo dos seguintes fatores: i) as equipes que não chegaram à fase eliminatória (playoffs) podem escolher antes das equipes que chegaram; ii) as equipes que chegaram à fase eliminatória escolhem na ordem inversamente proporcional ao seu sucesso.
Caso duas ou mais equipes tenham o mesmo índice de vitórias, estes são os critérios de desempate na respectiva ordem: i) disputas na última temporada: refere-se ao registro de vitórias-derrotas das equipes contra quem jogaram na última temporada; ii) índices da equipe na sua divisão e torneio regional; e por fim, iii) cara ou coroa.

Recorda-se ainda que algumas equipes têm mais do que uma escolha por rodada no draft, e outras equipes podem não ter nenhuma escolha em uma rodada. O número de seleções por equipe varia porque as chances de escolha no recrutamento podem ser trocadas com outras equipes, e a NFL pode dar opções adicionais a uma equipe se ela perder jogadores de passe livre restrito.
Segundo o jornalista citado, especialista em esportes americanos, um jogador com passe livre restrito é um jogador para quem outra equipe pode fazer uma oferta, mas sua equipe atual pode igualar essa mesma oferta. Se a equipe atual decidir não igualar a oferta, ela pode receber uma compensação na forma de uma escolha no recrutamento.
À título de exemplificação, nesta semana, o Tampa Bay Buccaneers trocou sua primeira escolha no Draft dessa quinta-feira feira pelo cornerback do New York Jets, Darrelle Revis. O Jets ainda receberá uma escolha condicional do Draft do ano que vem  dependendo se o jogador estiver no elenco do time em 2014 ou não.
 A NFL ainda dá escolhas compensatórias baseando-se na perda líquida de jogadores com passe livre restrito. O limite de seleções compensatórias é de quatro por equipe.
Logo, para quem ficou curioso e deseja saber a ordem do DRAFT NFL 2013, clique aqui.
Assim, nesta noite, os jogadores com maior probabilidade de serem draftados na primeira rodada serão convidados para comparecerem ao Radio City Music Hall, e muitos permanecerão em suas casas junto de seus familiares e agentes (comoocorreu com o quarterback Tim Tebow em 2010) no aguardo do anúncio dos nomes. Os que estiverem no evento aguardarão na ‘green room’, geralmente junto dos pais e empresários e, uma vez escolhidos, são “convidados” a subir no palco principal para receberem o boné e a camisa da franquia que passará a defender.
Indispensável destacar que, consoante a sábia lembrança de Kevin Bonsor, “a posição no recrutamento é importante para os jogadores e seus agentes porque as primeiras escolhas recebem salários maiores do que os jogadores selecionados depois”. De modo a justificar esse posicionamento cita o episódio em que o "quarterback David Carr foi recrutado pelo Houston Texans, em 2002, onde recebeu um bônus de assinatura de contrato de U$10.920.000 e um contrato de seis anos no valor de U$47.250.000. Já o segundo jogador escolhido, o "defensive end" Julius Peppers, recebeu um bônus de assinatura de U$9.100.000 e um contrato de sete anos no valor de U$20.985.300. Enquanto isso, o "defensive tackle" Ahmad Miller, que foi o último jogador selecionado no recrutamento de 2002, só  recebeu um bônus de U$21 mil e um contrato de três anos no valor de U$926 mil”.
Nesse cenário, ao menos o último jogador eleito no draft ganha o troféu Lowsman Trophy (Troféu do desconhecido), e será agraciado com festas em sua homenagem, bem como uma viagem à Disneylandia.
Por fim, necessário dizer que sob o aspecto jurídico uma dúvida poderia ressaltar aos leitores brasileiros familiarizados ao fim do regime do passe.
Seria o Draft, uma espécie de varejo de atletas, que impede o direito de livre contratação?
Penso que não. Valho-me, para tanto, dos ensinamentos do Mestre em Direito Desportivo, Luiz Roberto Martins Castro, que no artigo “Aspectos Jurídicos e Econômicos das Ligas Profissionais Norte Americanas”, publicado na RBDD edição n. 4, consignou:
“A principal consequencia do draft é que a equipe que selecionou um determinado atleta tem o direito exclusivo de negociar com ele, direito que deve ser fielmente respeitado pelas demais equipes da liga e pelo próprio atleta, sob pena de severas sanções. Ou seja, caso queira o atleta selecionado no draft, competir imediatamente, haverá obrigatoriamente de aceitar o salário oferecido, sob pena de aguardar mais uma temporada. Com isso, verificamos que o novo atleta vê constrangido, de início, o seu direito de contratação. Por esse motivo, a fim de se evitar problemas jurídicos que impeçam a sua realização, o draft está previsto nos convênios coletivos realizados pelos atletas de cada modalidade esportiva e pelas respectivas ligas”.
Se assim não fosse, nobres leitores, certamente a NFL seria mais um retrato do que atualmente é hoje o Campeonato Espanhol de Futebol, com Barcelona e Real Madrid disparados nas primeiras posições, sem qualquer ameaça concreta.
A vantagem do draft como processo de admissão de novos atletas é justamente a garantia do fator ‘equilíbrio’ (leia-se nível técnico) entre as equipes, impedindo que os melhores continuem por muito tempo nessa condição. Consequentemente, com o auxílio dos tetos-financeiros, também expressos nos acordos coletivos, assistimos literalmente esse equilibrio ganhar força, sobretudo, quando se afigura como raridade que vários times entrem em guerra por um único jogador através de propostas salariais altíssimas, o que inflacionaria o mercado, fator esse nada anormal no cenário do futebol brasileiro (obviamente que não o americano!)
Abraços e fiquem com Deus!!
**Você sabia que quase todo atleta que joga futebol no colegial sonha em jogar na NFL, mas a maioria nunca realiza esse sonho. A verdade é que a NFL tem um número restrito de oportunidades, sendo que apenas os jogadores mais talentosos têm a chance de preencher essas posições.Um milhão de alunos do colegial participam de competições de futebol a cada ano, de acordo com a National Federation of State High School Associations (em inglês) - Federação Nacional de Associações Estaduais de Colegiais. Pouquíssimos desses jogadores, um em cada 17, irão chegar ao futebol universitário.E as probabilidades são ainda menores de que um jogador de colegial chegue a ser um jogador da NFL. Apenas um em cada 50 veteranos do futebol universitário é recrutado por uma equipe da NFL, de acordo com a National Collegiate Athletic Association (em inglês), NCAA, (Associação Atlética Nacional de Universidades). Isso significa que somente nove entre 10 mil, ou 0,09%, dos jogadores veteranos do futebol de colegial serão recrutados por um time da NFL.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Brad. R. Humphreys e June E. Ruseski (2008). “The Scope of the Sports Industry in the United States”, publicado no livro “The Business of Sports – Volume 1 – Perspectives on the Sports Industyr” 

Luiz Roberto Martins Castro (2003). “Aspectos Jurídicos e Econômicos das Ligas Profissionais Norte Americanas”, publicado na RBDD edição n. 4

http://diarionfl.com/draft2013/ .  Acessado em 25 de abril de 2013.
http://pt.wikipedia.org/wiki/NFL .  Acessado em 25 de abril de 2013.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Draft .  Acessado em 25 de abril de 2013.

Fotografias retiradas do googleimages em 25 de abril de 2013. 
sites: sbnation.com / quintevents.com / espngo.com

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