sábado, 25 de maio de 2013

The "Speedo Guy" e algumas reflexões entre o esporte americano e brasileiro.

Caros amigos leitores!

Muito boa noite!

O post de hoje envolve inúmeras discussões entre Brasil e Estados Unidos, em torno de um vídeo extremamente engraçado.

Vejam abaixo:



Para quem não se familiarizou, trata-se de uma partida do basquete universitário americano entre a Duke University e a North Carolina University, basicamente uma das maiores rivalidades daquele país no âmbito universitário.

A partir dessa partida podemos suscitar, refletir e até imaginar diferenças entre o modo de se comportar dos torcedores até o modo com que os operativos de segurança agiriam diante do famoso "Speedo Guy".

Primeira distinção. EUA: Ginásio (Cameron Indoor Stadium) totalmente lotado em um jogo universitário, obviamente não profissional, mas tratado como tal. Como se pode ver pelas fotos, sua estrutura e equipamentos são modernos e de ótima qualidade.   
                             BRA: Ginásio para universitários? Certamente existem como se pode constatar através das últimas duas fotos abaixo destacadas. Mas será mesmo que poderíamos chamá-los de ginásios ou seriam em sua maioria simples quadras sem sequer arquibancadas? Pois, se alguém conhece algum ginásio de semelhante qualidade do Cameron Stadium da Duke University aqui no Brasil, por favor, deixe seu comentário e indique onde ele fica. Ah! Para ajudar nesse 'desafio' vocês poderão incluir também  ginásios onde as equipes profissionais do NBB atuam.






Segunda distinção. EUA: Os jogadores, todos, sem exceção, recebem bolsas de mérito esportivo em paralelo à busca pelo sucesso acadêmico.As universidades nos Estados Unidos, sejam elas públicas ou privadas, são pagas. O esporte universitário na terra do tio sam gera apenas 777 milhões de dólares em venda de direitos de transmissão. Os 'bowls' (partidas finais de conferência) movimentam cidades inteiras, elevando o nível de emprego e renda da população.
                          BRA: No Brasil o desporto universitário quase não existe em razão da política de educação e esporte levada a cabo pelo Governo Federal ao longo do último século. Algumas universidades públicas abrem a possibilidade da prática de esportes para seus acadêmicos, vide USP e USFC.  Por sua vez, infelizmente, podemos contar nos dedos as universidades particulares que também o fazem. A única que tenho conhecimento é a Ulbra de Canoas-RS que ao que consta parece fazer um belo trabalho. No entanto, ambas sequer chegam perto da seriedade e tratamento profissional que é direcionado aos estudantes americanos. Estes, além de viverem o sonho de se tornarem grandes nomes do esporte em uma das quatro grandes ligas (NBA, NFL, MLB e MLS),  podem também alimentar a certeza de que caso não sejam bem sucedidos esportivamente, certamente estão garantidos em empregos de qualidade no mercado profissional. No Brasil, como sabemos, só existe a certeza de que o esporte dentro da universidade é para descontrair, ou seja, não há futuro dentro do esporte profissional.

Terceira distinção. EUA: Os torcedores se comportam de maneira efusiva, alegre e majoritariamente civilizada (pouquíssimos são os registros de violência). Por lá o esporte é entendido como uma atividade prazerosa, de lazer, sobretudo familiar. Os dirigentes tratam os torcedores como consumidores e oferecem o que de melhor há no mercado do entretenimento, sem deixar a emoção, o sentimento de paixão e o 'tesão' pela equipe/esporte acabar. Não há por lá, como muitos pensam, uma ditadura elitizante do público que transforma os eventos esportivos em 'salas de teatro'. Só para demonstrar o quão evoluídos eles estão, nos estádios americanos os torcedores de times adversários assistem as partidas próximos uns dos outros (no mesmo setor) e as bebidas alcoólicas são liberadas! Nesse particular, caso alguém se exceda na dose ingerida, rapidamente é detido e levado para fora do estádio sem causar transtornos para os espectadores próximos, como inclusive já visto nesse espaço.
                          BRA: Os torcedores também são em sua maioria alegres e gostam de protagonizar festas nas arquibancadas. No entanto, em razão da educação do povo brasileiro ser notoriamente precária e por nossa população não ter o costume de respeitar o próximo, ou seja, por não apresentar condições suficientes de convívio das diferenças (sobretudo as preferências clubísticas ou sejam elas quais forem), infelizmente acabamos por estarmos acostumados a assistir cenas pouco civilizadas, em suma, de violência. Aqui, o esporte, sobretudo o futebol, é visto como uma 'terra sem leis', de forma que paz entre as torcidas organizadas acaba por parecer uma utopia. Não existem tentativas concretas para a mudança desse cenário por parte dos dirigentes esportivos e também pelo Poder Público, que erroneamente entende que a diminuição da violência passa pela promulgação de leis mais rígidas (leia-se, reformulação do Estatuto do Torcedor e consequente populismo penal). Não custa lembrar que aqui existe torcida única, proibição de bebidas alcoólicas, cambistas, flanelinhas, dirigentes investigados por corrupção, etc.

Quarta e última distinção que motivou a escrita do presente post.
                                 EUA: As comemorações inusitadas não são repreendidas pelos efetivos de segurança, salvo invasões de campo e quando torcedores ficam nus, por vezes, até como forma de protesto.
                           BRA. O que os policiais militares fariam caso se deparassem com o "Speedo Guy"? Confesso que pela pouca experiência que adquiri realizando pesquisas de campo em estádios e ginásios, certamente ele seria preso e também agredido. Uma cena como essa, para lá de engraçada, animadora e extremamente desestabilizante (tanto é que o atleta perdeu os dois lances livres) à equipe adversária, seria vista como desrespeitosa aos olhos da nossa "pura e correta" sociedade. Não me surpreenderia se ele fosse levado à delegacia acusado de praticar 'atentado ao pudor' (sic). 

Portanto, nobres leitores, vê-se o quanto podemos aprender não apenas do modo de torcedor do americano, mas principalmente, o modo como eles gerenciam o desporto universitário e também profissional. Ao contrário do que se vive aqui, não alimentamos o sentimento de pertencer eternamente à Universidade na qual nos formamos. 



O ideal de olimpismo (leia-se, viver e jogar em grupo, como nação, como uma equipe de amigos/patriotas) criado pelo Barão de Coubertin, venta longe dos ares canarinhos, haja vista que não possuímos uma política semelhante a dos Estados Unidos em âmbito educacional.

Preferimos utilizar nossos jovens no período extra-classe para o trabalho braçal (mentalidade eminentemente operária), ao invés de oportunizarmos a eles, saúde e educação, enfim, valiosos valores de convivência e respeito ao próximo que hoje muito nos faltam, através, quiçá do mais importante fator de integração da coletividade, o tão esquecido, mas para sempre insubstituível ESPORTE!

Você que concorda com o entendimento aqui esposado, amplie a discussão. O país necessita com urgência de incentivos para a prática esportiva desde o ensino fundamental.

Abraços e fiquem com Deus!

FELIPE TOBAR

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